Recentemente tive a oportunidade de dirigir um filme que preenche muitos dos requisitos pra ser um filme brilhante – uma idéia simples, com uma linguagem envolvente. Não é sempre que algumas mentes sensíveis desenvolvem roteiros tão intensos e inteligentes quanto este. Entendi desde o inicio que esse não seria mais um filme, uma cobertura de uma ação. A simplicidade da idéia deveria ser transmitia, mas com a mesma emoção do momento para quem não estava la. Esse pra mim era o desfio. Como transmitir sensações, emoções. Precisava criar um filme atemporal. Não no sentido de época mas de momento – independente de estar la ou não você deveria sentir o mesmo que eu, o mesmo que aquelas pessoas sentiram. Esse era o desafio.
ESCOLHAS
Foi dada a largada. Quando convidei o Sossai, DOP, ( http://williamsossai.com) sabia que não haveria pessoa melhor pra desenvolver essa linguagem comigo. Eu precisava de uma pessoa que enxergasse humanidade e usasse lentes e câmera pra isso. Sossai compartilha de uma visão parecida com a minha: buscamos detalhes, buscamos pele, buscamos sensibilidade, detalhes que humanizam as pessoas. E era exatamente isso que esse filme pedia. Queria desde o inicio levar o toque, o abraço, a textura que sentimos ao passar a mão na pele de outra pessoa. Num mundo frio, como o de hoje, esquecemos quão gostoso é encostar no rosto de quem amamos. Experimenta fechar o olho e descrever a pessoa que você mais ama – é isso que quis transmitir nesse filme.
Uma idéia simples, um roteiro simples, deve ser mantido dessa forma até o fim. Era minha decisão. Mas simplicidade não significa menos bonito. A fotografia seria um protagonista nesse filme. Ela, como sempre iria contar ajudar a transmitir essa historia. Ela era um personagem. Optei por um look mais cinematográfico, longe de um “video de uma ação”.
Era um filme de não-atores. Estava a mercê de sentimentos que não sabia se essas pessoas tinham ou se seriam capazes de chegar. Pra isso trabalhei nesse roteiro incerto, com possibilidades, fiz uma analise de roteiro imaginária, pra pensar em direções possíveis pra conduzir a emoção interna de cada um. Criei assim o que chamei de signos, símbolos, com meus personagens principais. Esses códigos me deram uma intimidade, criou-se uma cumplicidade temporária com eles e permitiu que nos comunicássemos, no set, numa conversa que só eu e eles sabíamos. Eu poderia assim puxar as emoções que inseri previamente dentro de cada um e acessa-las a vontade sem que ninguém mais no set soubesse além de nós dois.
Aprendi muito com esse filme. Desenvolvi uma técnica que ainda tem que ser muito explorada pra trabalhar com não-atores mas que entendi que funciona bastante pra mim. Foi um filme de aprendizado, principalmente sobre aprender a como aprender. Entendi, mais do que nunca a importância de ter referências solidas na cabeça, um dia antes de rodar o set quando se tem um filme livre, sem decupagem de planos definida.
por Jorge Brivilati, CEO e Diretor da La Casa de La Madre