Ser criativo é inerente à nossa humanidade. Apesar disso, quase diariamente nos queixamos de problemas como “falta de criatividade”, “bloqueio criativo” e da terrível mesmice que nos acompanha do trabalho à vida pessoal. Por isso mesmo é que devemos buscar artifícios e repertório para nos tornarmos mais criativos – somente assim, exercitamos o que há de mais poderoso em nós, que é a capacidade de transformar a realidade em que vivemos.
Quando penso em criatividade, lembro-me sempre de uma chefe que eu tive que era apaixonada por livros, a Cláudia. Ela era calma, atenciosa, boa ouvinte, prática e ótima líder. Ela sempre estava com um livro nas mãos. Enquanto a galera ia jogar videogame na salinha ao lado na hora do intervalo do almoço, ela aproveitava esse tempinho para se atualizar nas leituras.
Era uma leitora ávida e estava sempre em busca de conhecimento para aprimorar os processos da empresa e garantir insights únicos para a sua vida pessoal. A Cláu (passei a chamá-la assim quando ganhei intimidade) também tinha um bloquinho de papel onde ela anotava umas coisas – sempre fiquei curioso para saber o que tinha lá naquele caderninho! Um dia ela me deixou ler. Eram poemas, que ela criava a partir de situações cotidianas. Aquilo me inspirou a enxergar o ordinário sempre como extraordinário. Ao me lembrar disso, nada mais honesto do que trazer para vocês alguns livros que eu considero importantes para a minha trajetória criativa. Espero que vocês gostem!
Grande magia – Elizabeth Gilbert
A autora do premiadíssimo best-seller “Comer, rezar, amar” volta-se para a não-ficção em um livro que trata da criatividade sem medo. Não daquela criatividade que se esconde em uma ilha isolada ou no pico de uma montanha junto aos eremitas, mas de uma vida criativa real e possível, na qual existe muita curiosidade, abertura para experiências e coragem, especialmente para aceitar os erros como parte integrante da jornada. O livro é dividido entre os capítulos: 1) Coragem; 2)Encantamento; 3) Permissão; 4) Persistência; 5) Confiança e 6) Divindade e traz ótimas histórias, bem como casos sobre a vida criativa.
Roube como um artista – Austin Kleon
O autor do livro discorre sobre o seguinte mote: “nada se cria, tudo se copia”. Mas, ao falar em “roubo”, ele utiliza-se da metáfora de que sempre devemos estar roubando o que é bom dos artistas, das obras e de tudo o que nos rodeia para criar as nossas próprias referências. É por meio dessa aquisição que conseguimos construir novas ideias e, por meio delas exercitar a criatividade diariamente. Para Kleon, roubar está longe de “copiar” ideias, apenas de reconhecer que todo trabalho criativo tem origem em outros e que temos a capacidade de dar novas roupagens para criar algo único e nosso. Costurar dados, informações, insights e a própria percepção do cotidiano é o que garante trabalhos e ideias brilhantes.
O caminho do artista – Julia Cameron
Considerado por muitos como “a bíblia da criatividade”, o livro de Cameron traz exercícios práticos para uma vida mais criativa e muitas técnicas para enfrentar o “bloqueio criativo”. Para a autora, todo ser humano é criativo, pois essa é uma condição intrínseca à humanidade, mas que é preciso sempre exercitar a mente com técnicas e métodos que nos fazem encontrar com o nosso artista interior, com a nossa força criadora. No livro, ela traz, de forma sistemática, 12 semanas de exercícios e práticas para recuperar e/ou fortalecer a criatividade. Uma das técnicas que mais me chamou atenção foi a das “páginas matinais”, ou “morning pages”, que consiste em redigir, toda manhã, cerca de três páginas com pensamentos livres e soltos. A técnica promove além de uma limpeza mental, uma atenção aos primeiros pensamentos do dia, que costumam ser os mais puros.
Pense como um artista – Will Gompertz
De forma bastante ousada, o autor traz as histórias de artistas consagrados como Andy Warhol, Marcel Duchamp, Vincent Van Gogh com análises sobre as obras e algumas discussões sobre os processos criativos. Histórias que despertam para vivências que não são amplamente discutidas, mas que encorajam os leitores a libertarem o lado artístico, afinal, segundo o próprio autor “Somos todos artistas. Só precisamos acreditar nisso. É o que os artistas fazem.”
Escrita criativa: da ideia ao texto – Rubens Marchioni
A criatividade pode estar atrelada também com o fato de encontrar o seu “eu autor”. Nesse livro, Marchioni ensina algumas técnicas de escrita criativa e mostra algumas formas de como encontrar-se com a autoria no processo criativo que envolve o ato de escrever. Que consiste em encontrar um estilo próprio, ter coragem para expor suas ideias e persistência para aprimorá-las, além de trazer uma série de perguntas provocativas sobre criatividade. Uma delas me marcou muito: “De que outro jeito eu posso fazer o que eu estou fazendo?” E a atitude, a qual ele menciona, para responder a essa questão é simples: “Trabalhe incessantemente até descobrir.” – Provocador, não?
[BÔNUS]
O filho de mil homens – Valter Hugo Mãe
Com uma linguagem primorosa e cheia de neologismos, o autor conta a história de Crisóstomo, um pescador solitário que vai em busca de alguém que o complete, pois o fato de não ter tido filhos o tornou alguém solitário e que está sempre em busca de uma metade. Sua trajetória narra conflitos existenciais e aborda temas como solidão, tristeza, esperança, vulnerabilidade e sensibilidade. Por que indico? Além da linguagem bastante criativa, é um livro bonito que trata dos afetos que temos, que perdemos e sobre o porquê de mantermos na nossa vida as pessoas que estão próximas. A leitura é deliciosa e vale demais como uma ampliação do repertório criativo.
Como se encontrar na escrita – Ana Holanda
Ana Holanda, jornalista que passou por diversas redações em todo o país, conduz o leitor a uma jornada diferente. A proposta é se encontrar na escrita afetuosa, uma escrita sincera e visceral para que somente com o resgate do que vem de dentro, seja possível criar uma escrita verdadeira e única. O livro é delicioso e encantador – por meio das histórias dela, Holanda também traz uma série de exercícios práticos ao fim de cada capítulo para exercitar a criatividade, a escrita, a escuta e uma intensa observação do cotidiano.
Os livros são recursos fundamentais para ter ideias mais criativas. São formas de te conduzir ao percurso criativo com as ideias e dados de quem trabalha diretamente com isso. Suba nos ombros de gigantes para alcançar visões mais amplas sobre o mundo, sobre a vida e sobre si mesmo. Boa jornada!
P.S: Vale lembrar que depois de me inspirar tanto na Cláudia, nunca mais abandonei o meu caderninho de boas ideias.
Abraço,
André Castilho