Minha carreira como diretor de arte, basicamente, começou há 8 anos numa das maiores agências de propaganda da América latina e hoje minha relação com ela se da de um jeito diferente. Dirigi meu primeiro comercial de TV pra AlmapBBDO. No inicio do ano dirigi um mockumentary pra Casa do Zezinho (https://vimeo.com/120699261). Dessa vez havia sido convidado a dirigir um 30s pro Bradesco.
Esse filme veio com uma oportunidade diferente. Era um filme onde se misturariam dois esportes: corrida e remo. Logo pensei no Rio de Janeiro como locação. Preciso dizer que desde que comecei a dirigir, nunca filmei no Rio, onde nasci. Levei a proposta de filmar na Lagoa Rodrigo de Freitas. Lindo, lindo! Vamos fazer la. Só não podemos mostrar que é Rio de Janeiro. Eu ri nessa hora pensando novamente: Fodeo. Como não mostrar que não é Rio se até a calçada tem cara de Rio, o céu tem cara de Rio, o coco tem cara de Rio e por ai vai… Lançado o desafio.
FAZER FILME DA NIKE
Nessa época o William Sossai (http://williamsossai.com) estava aqui no Brasil, mais precisamente na minha casa, enquanto fazíamos o filme de Huggies (https://vimeo.com/127499576). Convidei ele pra fotografar. Era um pouco diferente do que vínhamos desenvolvendo nos filmes de Monange (https://vimeo.com/127546236) e de Huggies. A fotografia nesses dois filmes tinham um papel importante de contar uma história. Não que nesse não tenha, mas não seria esse mais um filme pra emocionar, fazer chorar como gostamos de fazer. Esse tinha uma mensagem a ser transmitida e ponto. Nesse tipo de filme, o que te garante um bom resultado é uma decupagem bem feita e bem pensada, onde você consiga transmitir a mensagem e sensações, mesmo que de modo básico.
Inicialmente queria fazer um filme da Nike, da Adidas. Mas calma Jorge, não era pra esse filme essas referências. É um filme de uma corrida simples, pra pessoas comuns, não atletas. Não cabe a sensação de esforço, suor, determinação. Isso serve pra parte dos remadores. Então vamos transmitir essas emoções nessa primeira parte do filme e quebrar esse ritmo na sequência. Funciona! Pra isso decupei o filme com algumas tomadas aéreas. Estavamos no Rio, a lagoa é linda, não da pra deixar passar. Percebi de uns três filmes pra ca o porquê de uma tomada aérea ser tão interessante. Ela nos dá uma visão não humana. Não é comum aos nossos olhos, por isso ela vem a ser tão interessante. Acaba sendo uma visão “divina”, de alguém superior.
Como em todo filme, vieram algumas dificuldades. A principal era encontrar a equipe que eu queria. Todos agendados. Nunca havia filmado no Rio e levar as pessoas que costumo trabalhar aqui em São Paulo encareceria o projeto. Passagens – malditas passagens aéreas. Decupei o filme pensando em rodar inteiro no Môvi. Primeiro choque: não achavamos ninguém no Rio que operasse o mövi. Alguns produtores nem sabiam o que era. Mobilidade – isso define o Mövi. Tenho usado em todos os meus últimos filmes. Tive que recorrer ao steadycam. Resolve o problema? Resolve. Mas me da desespero ficar longe da câmera. Eu vim da fotografia e não consigo ficar longe da câmera quando estou no set. 99% dos meus filmes eu opero câmera. Não sei por que, mas quando to rodando, estou montando o filme instantaneamente na cabeça, e mudanças e idéias aparecem a toda hora. Estar com a câmera na mão me permite testar essas coisas a hora que quiser. Passou um pássaro, isso vai ser ótimo no filme. Pá! mirou e filmou. Obvio que voce pode pedir para o operador. Mas quem trabalha com cinema sabe a diferença que 2 segundos fazem. Ganhar ou perder o plano.
Me batia um desconforto, como de uma mãe que deixa seu filho pela primeira vez na escolinha. Todo mundo sabe como tratar ele, mas você é mãe e sabe melhor que ninguém como tratar e criar ele. Essa é minha relação com a câmera.
“Zé, olhaí da janela e vê como ta o tempo hoje”
— sistema de meteorologia do Clima Tempo
Como nem tudo é simples, o ClimaTempo disse que seria um dia lindo de sol. Bullshit! Começou a chover desesperadamente no inicio do dia. Ja começamos a pensar em alternativas de weatherday quando a chuva se foi, garantindo assim um atraso de 2 horas. Aceleramos tudo, inclusive as tomadas aéreas. Foi a primeira vez que filmei com drone e você tem uma janela e margem de experimentação muito baixa. Essa foi minha impressão. Você tem vôos de 8 min em média. Você precisa saber exatamente o que você quer antes de decolar, por que quando você começar a frase “e se a gente fizesse…”, já ta na hora de voltar e trocar a bateria.
Outra dificuldade que senti foi de filmar na água. É duas vezes mais difícil do que parece e três vezes mais lento do que você acha. Agua não para, o vento te realinha, os remadores vão de costa, o barco te gira pra fora do eixo do Sol e por ai vai. Só que o mais incrível do cinema é que no final da tudo certo e ninguém sabe o que esta por trás daquela imagem final na televisão.
por Jorge Brivilati, CEO e Diretor da La Casa de La Madre