Você já deve ter ouvido falar em storytelling e como muitas empresas estão desenvolvendo suas marcas por meio dela. O fato é que, a cada dia, narrativas mais elaboradas fazem parte da estratégia empresarial de diferentes modelos de negócios.
Mesmo depois de tantos cases de sucesso, muitos gestores ainda ficam em dúvida sobre por que utilizar o storytelling como uma ferramenta estratégica. Assim, no post de hoje queremos te mostrar como isso é possível. Ficou interessado? Continue a leitura para saber mais!
POR QUE USAR O STORYTELLING NA EMPRESA?
Storytelling é uma forma de construir uma narrativa para engajar e cativar as pessoas. Pense, por exemplo, nos filmes e séries mais envolventes que você assistiu nos últimos tempos e qual foi a história que eles contaram.
De fato, algumas histórias são capazes de emocionar, intrigar e despertar todo tipo de sentimento, se suas narrativas forem bem construídas. Ao contar uma história, as pessoas se identificam com os personagens e seus dramas, sentindo uma empatia maior por eles. Além disso, ficam curiosas em saber o que acontecerá em seguida.
Então, não é por acaso que as empresas estão adotando esse mesmo caminho em suas estratégias. O storytelling acaba sendo bem mais eficiente para atrair o público do que uma frase de efeito ou uma imagem bonita.
QUAIS AS FORMAS DE APLICAR O STORYTELLING?
Atualmente, as empresas têm usado o storytelling de duas maneiras principais. No branded content (conteúdo de marca), elas oferecem conteúdos relevantes para o público, como forma de atrai-lo a uma necessidade ou produto.
Assim, são contadas histórias de como algum produto ou uma ideia pode ajudar alguém em determinada necessidade, por exemplo. Tudo isso é feito de modo sutil, a partir de quando uma pessoa resolve consumir aquele conteúdo pela sua relevância para ela naquele momento.
No entanto, o que queremos destacar aqui é uma forma mais complexa de construir uma narrativa. Ela envolve colocar toda a estratégia empresarial, a missão, os valores e a cultura da empresa sob uma mesma estrutura narrativa, adquirindo um significado especial dentro do contexto (mercado) no qual se insere. Assim, o cliente poderá perceber a marca como relevante e não apenas o seu conteúdo.
QUAIS AS VANTAGENS PARA A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL?
Então seu cliente se interessa mais pela sua narrativa. Mas qual é a vantagem disso? Bom, se sua empresa vende um produto, basta analisar a quantidade de concorrentes disponíveis e comparar quais são seus diferenciais em relação a eles. Perceba que, em qualquer mercado, existem produtos (ou serviços) muito parecidos dentro de um mesmo segmento.
O storytelling ajuda a sua marca a se diferenciar não pelas características básicas do seu produto, mas pelo valor intrínseco a ela. Desta forma, uma estratégia empresarial voltada para o storytelling:
faz a sua marca se destacar, sair do lugar comum;
ajuda o seu cliente se lembrar da sua marca, uma vez que uma história ajuda a fixar uma ideia;
cria uma sensação de aspiração, desejo, pois coloca a sua marca em uma posição privilegiada;
aproxima a sua empresa das pessoas, gerando uma maior identificação com ela.
Para a estratégia empresarial, essas vantagens são percebidas no longo prazo ao se construir uma empresa mais forte, que se baseia mais no valor da marca do que no potencial dos seus produtos. Afinal, ninguém quer ser só mais um na prateleira, não é mesmo?
AS IMAGENS QUE ILUSTRAM ESSE POST SÃO DO NOSSO PROJETO “NA ROTA DO ROCK”, EM QUE A SKY UTILIZOU O STORYTELLING COMO ESTRATÉGIA DE DIVULGAÇÃO DE SEU PATROCÍNIO AO ROCK IN RIO.
Boas histórias sobrevivem a timelines efêmeras. Mas como criar um conteúdo de storytelling que traga bons números aos negócios?
Aqui vão algumas dicas:
1. BRIEFING
Primeiro é preciso definir qual é a mensagem que será transmitida, o que você quer despertar no seu espectador e quem será esse espectador. Você pode até criar uma ficção, fatos que não aconteceram, mas é importante transmitir a verdade. Qual mensagem genuína, valores que a marca traz que posso colocar na narrativa? A partir disso, você define se vai contar uma história de ficção ou um documentário e busca referências do estilo escolhido, coisas que você gosta e que te inspiram que possam contribuir com elementos para o seu filme. Por fim, é muito importante traçar uma estratégia para definir aonde a história será contada e em que contexto você vai apresentá-la ao seu público, de modo que se evite divulgar esse conteúdo num momento em que ele não irá notá-la.
2. LINGUAGEM
Defina qual será o tom do filme. Você quer despertar risada ou fazer as pessoas chorarem? A linguagem é a chave que vai abrir a fechadura do espectador, por isso é preciso usar aquela com a qual o seu público está familiarizado. O jovem está aberto a videoclipe, ação, elementos exagerados de comédia. Já um público de mais idade prefere uma estrutura mais clássica, com linearidade. Então escolha elementos que conversem com o repertório do público selecionado e tenha domínio da linguagem escolhida. Não adianta querer criar uma comédia se você não tem o timing dentro de você. Neste caso, estude aquela linguagem, se aproprie dela, entenda seus elementos, estruturas e arquétipos para que possa dominá-la para convencer o público.
3. ESCRITA
Quando estiver completamente munido de informações e conteúdos sobre o que deseja contar, escreva. Deixe a criatividade rolar solta e coloque no papel todas as ideias que lhe vierem à mente, sem julgamentos. Faça várias sinopses sem se apegar a nenhuma. Crie 20 rascunhos e só depois comece a ver quais ideias podem se tornar boas histórias, descartando o que não for bom o suficiente. Depois, selecione as melhores sinopses e pergunte-se ao passar por cada uma delas: porque essa história precisa ser contada? Quando a resposta for óbvia, é porque você encontrou sua história. Ai é só partir para o roteiro.
4. EMOÇÃO
Uma história muito boa segue uma curva de emoções e conduz o espectador por meio das ações dos personagens. Quem assiste tem que viver uma montanha-russa de sensações dentro de si, amando, odiando e torcendo pelo protagonista. Ele não precisa ser um herói, mas tem que despertar a empatia do público. Walter White é o vilão de Breaking Bad, mas ele faz tudo pela sua família e, assim, o espectador se vê na pele dele, compreende suas ações. Sem empatia pelo protagonista, nem a melhor história pode funcionar. Além disso, toda narrativa deve dar aos protagonistas uma transformação: pode ser um aprendizado, uma conquista ou uma mudança no estado de emoção dele. Se a história não transformar o personagem, não é história.
5. DEFESA
Para contar uma boa história, você precisa estar confiante para convencer, além do público, quem está te contratando para criar aquele conteúdo. Tenha clareza para defender a sua ideia e embasar cada linha do que está escrevendo. Muitas histórias morrem não por falta de inspiração do criador, mas por ele não conseguir expressar sua intenção aos agentes envolvidos no processo.
AS ILUSTRAÇÕES DESTE POST SÃO IMAGENS DO NOSSO FILME “MEETING MURILO”, PARA A HUGGIES, E VOCÊ PODE CONFERIR AQUI:
Quatro músicos e um motorhome: como fazer uma série para o Rock in Rio
O processo criativo por trás da série “Na Rota do Rock”, produzida pela La Casa de la Madre para a SKY | (por Camila Anfilo)
O desafio era enorme: budget reduzido, equipe reduzida, projeto megalomaníaco. O cenário perfeito para dar tudo errado.
A série, com 5 episódios de até 6 minutos, nasceu de uma ideia concebida pelo time de criação da agência Ampfy para a SKY, patrocinadora do festival Rock in Rio. O objetivo era acompanhar a jornada de quatro jovens músicos a caminho da Cidade do Rock. Ninguém se conhecia, nenhum deles sabia o que estava por vir. A única coisa que os unia era a paixão pela música.
Roteiro
A agência queria que documentássemos a viagem dos músicos até o festival Rock in Rio. A partir desta premissa, começamos uma extensa pesquisa de personagens, entre mais de 60 músicos. Foi fundamental o trabalho de encontrar traços de personalidades que se cruzassem e possibilitassem o desenvolvimento de uma narrativa fluida.
Com os personagens selecionados e aprovados, o diretor Jorge Brivilati e o roteirista André Castilho elaboraram juntos várias situações fictícias para acontecer “espontaneamente” no decorrer da viagem, sem que os músicos soubessem, para que suas reações genuínas fossem registradas. Então, ora o pneu do ônibus furava, ora tínhamos o Supla pedindo carona ou o Rogério Flausino aparecendo de sopetão dentro de um barco, em Paraty.
Além disso, foi preparado um roteiro documental de perguntas a serem feitas para os músicos – influências musicais, família, sentimentos, sonhos, receios, etc. -, o que foi essencial não apenas para criar uma dinâmica entre eles, mas para levar o espectador às camadas mais profundas dos personagens.
Desde a concepção do roteiro, foi feita a opção por se fugir dos voice oversexcessivos ou recursos de locução, o que exigiu uma extensa decupagem prévia de cenas, para preencher os episódios com ações de personagens, em diálogos reais, provocados por induções do diretor.
Direção e Fotografia
Quem conduziu a direção e a direção de fotografia deste projeto foi Jorge Brivilati, que escolheu uma estética oriunda dos anos 60/70: película, 16mm, flares, lightleaks. Pela temática, este filme permitiu o uso de um grão mais pesado, remetendo a uma memória emocional do que eram os grandes festivais de rock do passado.
Por ser um filme com muitas cenas de baixa luminosidade, a câmera Sony Alpha 7SII se fez estratégica, pois além de ter um sensor poderoso de 4K com uma alta latitude, é compacta e ágil. Associada a lentes Prime, essa câmera foi essencial para trazer o look cinematográfico que o diretor estava buscando. Como ele costuma dizer, “a A7SII enxerga no escuro”.
Praticamente toda a iluminação foi natural, exceto dentro do motorhome, onde foi preciso inserir alguns pontos de luzes diegéticas (que simulam fazer parte do ambiente). Na cena do luau, foram colocados dois pontos extras de luz (PAR 64) para simular o brilho dos faróis do motorhome e recortar os personagens da escuridão.
Direção de Arte
As escolhas feitas pela diretora de arte Débora Pascotto cumpriram o seu papel on the road com louvor: tudo milimetricamente fora do lugar, exatamente como seria se jogássemos quatro artistas voltando de um Woodstock da vida.
Desde a cortininha florida desbotada ao fundo, até a jarra de abacaxi nostálgica da avó, o que não faltaram foram objetos literalmente colados pelos cantos do ônibus, para assegurar que nada capotasse na próxima curva.
Montagem
Esta foi mais uma tarefa para Jorge Brivilati, que fez questão de fazer todo o select das mais de 30 horas de material bruto e montar o quebra-cabeças em episódios concisos. A opção por centralizar a função é que, segundo o próprio, ele tinha todas as cenas já decupadas na cabeça. Além disso, ele viveu na pele, junto com os músicos, todas as emoções da viagem. Montar o próprio filme também lhe possibilitou experimentar novas linguagens, como por exemplo planejar usar como footage o material gerado pelos próprios músicos a partir de seus celulares.
Embarque nesta viagem: dê um play nos episódios abaixo e confira o resultado do nosso trabalho 🙂
Se você quiser saber mais sobre este projeto ou sobre o nosso modelo de parceria com agências e marcas, mande um email para a gente: [email protected]
Alguns dias atrás, eu estive em Los Angeles para promover o curta-metragem “Reencontro”, selecionado no LA Shorts Festival. Em minha breve passagem pela cidade, pude conversar com cineastas do mundo todo, incluindo o diretor brasileiro Rodrigo Zan, com quem tive alguns importantes aprendizados sobre a indústria do cinema, os quais compartilho aqui com vocês:
1. Financiar o próprio filme é o grande calcanhar de Aquiles para qualquer cineasta. Mas se você estiver em Los Angeles, é mais fácil. Lá, você vai encontrar gente muito, mas muito boa mesmo, topando trabalhar por um cachê reduzido (comparado com aqui) ou até sem cobrar nada, em projetos que possam impulsionar suas carreiras. Aliás, é comum você encontrar motoristas de Uber ou garçons que são (bons) diretores, atores, roteiristas, fotógrafos. Todos correndo atrás do sonho de estourar em Hollywood. Aluguel de equipamento também é uma merreca, mesmo fazendo as conversões de moeda. De quebra, você ainda passa num outlet antes de voltar pro Brasil e faz a festa.
2.Uma dica preciosa que eu ouvi de 9 entre 10 cineastas de produções independentes: em vez de gastar tudo o que você não tem produzindo locações, alugue tudo pelo Airbnb. Sai muito mais em conta.
3. Esqueça os curtas, se você quiser viver de cinema. Hollywood está de olho mesmo é nos longas-metragens de low budget (entre $300k a $1MM). Isso porque, se você souber fazer um filme lindo com pouca verba, os executivos dos estúdios vêem que você é a galinha dos ovos de ouro que eles procuram, pois mesmo que o filme seja alternativo e demande verba de marketing, ainda é possível tirar lucro da audiência. Filmes acima desse budget caem no limbo, pois acabam competindo com os blockbusters, que têm verba de produção, marketing e distribuição infinitamente maiores.
4. Outra vantagem de se fazer longas é que, nos festivais de cinema do mundo todo, você estará concorrendo com muito menos gente, já que a produção mundial de longa-metragens é muito menor que a de curtas. Em um festival como o LA Shorts, por exemplo, a média de inscrições é de 5.000 filmes, enquanto que no Sundance é de uns 300. Menos concorrência, mais chance de visibilidade. E um último fator é que os executivos do Netflix, Hulu, Amazon e outros players dessa nova era hollywoodiana estão todos nos festivais de longa, sedentos por fazer aquisições de filmes que estejam prontos para ganhar o mercado. Já o curta, tadinho, até hoje não encontrou um formato sustentável em nenhuma plataforma, embora o VOD tenha ajudado ao menos a recuperar parte do investimento.
5.Faça filmes em língua inglesa. A maior barreira entre nós, brasileiros, e os americanos não é cultural, mas de idioma. Se você fizer um filme lindo em português, suas chances são menores do que um filme até menos brilhante falado em inglês. Americanos não lêem legenda. E se os donos do brinquedo não querem aprender a nossa língua, a gente que se matricule no Cel Lep. O ponto positivo é que eles não ligam muito para o sotaque, já que 30% da população tem origem imigrante. Ou seja, pelo menos não precisamos nascer de novo.
6. Não copie Hollywood. Não é exatamente a melhor estratégia criar um filme que poderia ser sido rodado lá, pelos próprios americanos. Por outro lado, se você criar um filme que só possa ter sido feito por você, brasileiro, apropriando-se da sua cultura, mas contando uma história que envolva sentimentos universais, o seu filme tem uma boa chance de performar nos festivais de lá e ganhar janelas de exibição mundo afora.
7. Não torre toda a sua grana em festival. Embora festivais sejam uma vitrine importante para cineastas firmarem seus nomes, além de renderem um ótimo network, você gasta um dinheiro considerável para colocar o seu filme lá. São centenas de dólares em inscrições, depois mais uma quantia boa em conversão DCP (Digital Cinema Package), caso o filme seja selecionado para algum festival. Some a isso mais alguns milhares de reais em passagem, hotel e hospedagem (embora alguns festivais ofereçam hospedagem, a conta ainda é alta). Um conselho que eu recebi é injetar o dinheiro que iria para festivais em marketing de divulgação do filme. Um filme que performa bem chama a atenção dos grandes produtores, e aí quem sabe eles te chamem para um café ou uma partida de golfe.
8. Festival não é só mérito. Como tudo na vida, se você conhecer alguém que conhece alguém, o seu filme sai na frente. Festivais costumam favorecer filmes com elenco estelar, pois ter celebridades na noite da premiação ajuda a promover a reputação do evento em si. Portanto, além de artista, você precisa desenvolver seus skills de politicagem e ficar amigo das pessoas certas.
9.Tem cinemas de rua espalhados por todos os cantos em LA, o que possibilita que produções independentes conversem com públicos mais nichados, sem terem que disputar sala e bilheteria com o novo filme do Homem-Aranha, ou do “Se eu Fosse Você 12”, como acontece aqui.
10.Por fim, mas não menos importante: tem muito cineasta brasileiro morando em LA. Se você pretende se aventurar por lá, um bom começo é convidar esses caras para tomar um café e pedir umas dicas e conselhos sobre o mercado, dentro da experiência que cada um acumulou. Eles estão aí, nas redes sociais. É só chegar na humildade.
11.Essa dica fui eu que dei para os cineastas de lá: considere encontrar uma marca para bancar o seu filme. Sim, o tão falado branded content. Você fica feliz por ver seu roteiro ganhar vida, paga toda a sua equipe bonitinho (porque, né, nem só de louros vive o homem), promove o filme (já que toda peça de comunicação de marca tem um plano de mídia atrelado) e ainda o distribui online, gratuitamente, para quem quiser assistir. Já o diretor de marketing fica tão feliz quanto você, porque, segundo pesquisas da neurociência, histórias são 56% mais impactantes do que qualquer outro tipo de mensagem. A LATAM Airlines, por exemplo, apostou na nossa história e tirou lágrimas de uma sala de cinema em um festival de Los Angeles, com um filme em português! Sim, fizemos os americanos lerem legenda. Nada mal para um “comercial de avião” (aqui eu conto sobre o processo criativo e aquieu explico como o filme chegou em Hollywood).
Estes foram aprendizados que eu absorvi em apenas uma semana, não são verdades universais. Se você é cineasta e vive ou já esteve em LA, compartilhe nos comentários a sua experiência. E se alguém aí estiver a caminho de Los Angeles pela primeira vez, posso contar como aluguei um carro por 18 dólares a diária. Esta sim, uma dica 100% quente.
ANDRÉ CASTILHO É CEO E ROTEIRISTA DA LA CASA DE LA MADRE
O dia em que o branded content alcançou a Sétima Arte
Como um curta produzido para a LATAM Airlines chegou a Hollywood
Quando um filme produzido para uma marca entra para a seleção oficial de um festival internacional de cinema, é sinal de que o branded contentconquistou seu lugar ao sol na competitiva indústria do entretenimento. Foi o que aconteceu com o nosso curta-metragem “Reencontro”, selecionado para o LA Shorts, um dos únicos festivais do gênero reconhecidos pela Academy Awards, cujos vencedores são elegíveis ao Oscar. Sim, uma marca batendo na porta do Oscar.
Como chegamos tão longe? Pensando em cinema — não em propaganda — desde o início. O briefing que recebemos da LATAM foi: “queremos ideias de curta-metragens que expressem o nosso momento”. Na época, o momento eram os Jogos Olímpicos, patrocinados pela marca. Foi então que fizemos o nosso trabalho, seguindo um workflow semelhante ao de uma produção de cinema. O processo criativo está detalhado neste outro artigo.
Não existe fórmula pronta para o sucesso, mas eu me arrisco a listar alguns pontos que certamente vão além do alinhamento dos astros, para justificar nosso feito:
Maturidade da marca;
Relação horizontal de parceria, não de cliente-fornecedor;
Liberdade autoral;
Tempo para fazer o projeto direito, sem atropelamento de cronograma;
Equipe de filmagem com as pessoas mais talentosas que conhecemos;
Entendimento da marca em transmitir suas mensagens e valores através da história, sem querer roubar a cena com exposição forçada de produto.
Encadeamento de emoções e conflitos que fogem do mood “família margarina” da publicidade.
Direção de atores trabalhando várias camadas de profundidade nos personagens, explorando os subtextos do roteiro;
Produtores de áudio (mdois) com sensibilidade para interpretar a história, dar profundidade às cenas e conduzir a emoção do espectador.
Respeito da marca ao tempo do filme. Drama é feito de silêncios.
Quando o Jorge Brivilati e eu fundamos a La Casa de la Madre, nós partimos da certeza de que HISTÓRIAS MUDAM O MUNDO e que as marcas podem ser contadoras de grandes histórias. Ao optarmos por inscrever este filme apenas em festivais de cinema e, agora, colhendo o resultado, nós não apenas mostramos ao mercado publicitário brasileiro que o storytelling pode ser uma ótima estratégia para falar com o coração das pessoas, como provamos para nós mesmos que estamos no caminho certo. E, no momento, estamos a caminho de Hollywood. Quem nos acompanha?
André Castilho é CEO e roteirista da La Casa de la Madre
O que eu aprendi sobre cinema (em uma semana) em Hollywood
Reflexões sobre a indústria (por André Castilho)
Alguns dias atrás, eu estive em Los Angeles para promover o curta-metragem “Reencontro”, selecionado no LA Shorts Festival. Em minha breve passagem pela cidade, pude conversar com cineastas do mundo todo, incluindo o diretor brasileiro Rodrigo Zan, com quem tive alguns importantes aprendizados sobre a indústria do cinema, os quais compartilho aqui com vocês:
1.Financiar o próprio filme é o grande calcanhar de Aquiles para qualquer cineasta. Mas se você estiver em Los Angeles, é mais fácil. Lá, você vai encontrar gente muito, mas muito boa mesmo, topando trabalhar por um cachê reduzido (comparado com aqui) ou até sem cobrar nada, em projetos que possam impulsionar suas carreiras. Aliás, é comum você encontrar motoristas de Uber ou garçons que são (bons) diretores, atores, roteiristas, fotógrafos. Todos correndo atrás do sonho de estourar em Hollywood. Aluguel de equipamento também é uma merreca, mesmo fazendo as conversões de moeda. De quebra, você ainda passa num outlet antes de voltar pro Brasil e faz a festa.
2.Uma dica preciosa que eu ouvi de 9 entre 10 cineastas de produções independentes: em vez de gastar tudo o que você não tem produzindo locações, alugue tudo pelo Airbnb. Sai muito mais em conta.
3.Esqueça os curtas, se você quiser viver de cinema. Hollywood está de olho mesmo é nos longas-metragens de low budget (entre $300k a $1MM). Isso porque, se você souber fazer um filme lindo com pouca verba, os executivos dos estúdios vêem que você é a galinha dos ovos de ouro que eles procuram, pois mesmo que o filme seja alternativo e demande verba de marketing, ainda é possível tirar lucro da audiência. Filmes acima desse budget caem no limbo, pois acabam competindo com os blockbusters, que têm verba de produção, marketing e distribuição infinitamente maiores.
4.Outra vantagem de se fazer longas é que, nos festivais de cinema do mundo todo, você estará concorrendo com muito menos gente, já que a produção mundial de longa-metragens é muito menor que a de curtas. Em um festival como o LA Shorts, por exemplo, a média de inscrições é de 5.000 filmes, enquanto que no Sundance é de uns 300. Menos concorrência, mais chance de visibilidade. E um último fator é que os executivos do Netflix, Hulu, Amazon e outros players dessa nova era hollywoodiana estão todos nos festivais de longa, sedentos por fazer aquisições de filmes que estejam prontos para ganhar o mercado. Já o curta, tadinho, até hoje não encontrou um formato sustentável em nenhuma plataforma, embora o VOD tenha ajudado ao menos a recuperar parte do investimento.
5.Faça filmes em língua inglesa. A maior barreira entre nós, brasileiros, e os americanos não é cultural, mas de idioma. Se você fizer um filme lindo em português, suas chances são menores do que um filme até menos brilhante falado em inglês. Americanos não lêem legenda. E se os donos do brinquedo não querem aprender a nossa língua, a gente que se matricule no Cel Lep. O ponto positivo é que eles não ligam muito para o sotaque, já que 30% da população tem origem imigrante. Ou seja, pelo menos não precisamos nascer de novo.
6.Não copie Hollywood. Não é exatamente a melhor estratégia criar um filme que poderia ser sido rodado lá, pelos próprios americanos. Por outro lado, se você criar um filme que só possa ter sido feito por você, brasileiro, apropriando-se da sua cultura, mas contando uma história que envolva sentimentos universais, o seu filme tem uma boa chance de performar nos festivais de lá e ganhar janelas de exibição mundo afora.
7. Não torre toda a sua grana em festival. Embora festivais sejam uma vitrine importante para cineastas firmarem seus nomes, além de renderem um ótimo network, você gasta um dinheiro considerável para colocar o seu filme lá. São centenas de dólares em inscrições, depois mais uma quantia boa em conversão DCP (Digital Cinema Package), caso o filme seja selecionado para algum festival. Some a isso mais alguns milhares de reais em passagem, hotel e hospedagem (embora alguns festivais ofereçam hospedagem, a conta ainda é alta). Um conselho que eu recebi é injetar o dinheiro que iria para festivais em marketing de divulgação do filme. Um filme que performa bem chama a atenção dos grandes produtores, e aí quem sabe eles te chamem para um café ou uma partida de golfe.
8.Festival não é só mérito. Como tudo na vida, se você conhecer alguém que conhece alguém, o seu filme sai na frente. Festivais costumam favorecer filmes com elenco estelar, pois ter celebridades na noite da premiação ajuda a promover a reputação do evento em si. Portanto, além de artista, você precisa desenvolver seus skills de politicagem e ficar amigo das pessoas certas.
9. Tem cinemas de rua espalhados por todos os cantos em LA, o que possibilita que produções independentes conversem com públicos mais nichados, sem terem que disputar sala e bilheteria com o novo filme do Homem-Aranha, ou do “Se eu Fosse Você 12”, como acontece aqui.
10.Por fim, mas não menos importante: tem muito cineasta brasileiro morando em LA. Se você pretende se aventurar por lá, um bom começo é convidar esses caras para tomar um café e pedir umas dicas e conselhos sobre o mercado, dentro da experiência que cada um acumulou. Eles estão aí, nas redes sociais. É só chegar na humildade.
11.Essa dica fui eu que dei para os cineastas de lá: considere encontrar uma marca para bancar o seu filme. Sim, o tão falado branded content. Você fica feliz por ver seu roteiro ganhar vida, paga toda a sua equipe bonitinho (porque, né, nem só de louros vive o homem), promove o filme (já que toda peça de comunicação de marca tem um plano de mídia atrelado) e ainda o distribui online, gratuitamente, para quem quiser assistir. Já o diretor de marketing fica tão feliz quanto você, porque, segundo pesquisas da neurociência, histórias são 56% mais impactantes do que qualquer outro tipo de mensagem. A LATAM Airlines, por exemplo, apostou na nossa história e tirou lágrimas de uma sala de cinema em um festival de Los Angeles, com um filme em português! Sim, fizemos os americanos lerem legenda. Nada mal para um “comercial de avião” (aqui eu conto sobre o processo criativo e aquieu explico como o filme chegou em Hollywood).
Estes foram aprendizados que eu absorvi em apenas uma semana, não são verdades universais. Se você é cineasta e vive ou já esteve em LA, compartilhe nos comentários a sua experiência. E se alguém aí estiver a caminho de Los Angeles pela primeira vez, posso contar como aluguei um carro por 18 dólares a diária. Esta sim, uma dica 100% quente.
André Castilho é CEO e roteirista da La Casa de la Madre
“Cinema é como um sonho, como uma música. Nenhuma arte perpassa a nossa consciência da forma como um filme faz; vai diretamente até nossos sentimentos, atingindo a profundidade dos quartos escuros de nossa alma.” Ingmar Bergman
A sétima arte é um instrumento poderoso de expansão do nosso próprio universo, do micro para o macro e do macro para o micro, abrindo acesso às nossas mais profundas imagens internas: aqueles lugares que habitam em nós, tão individuais e inacessíveis aos outros, mas que definem quem realmente somos. Schoupenhauer dizia que “o mundo é minha representação”. Desde as pinturas das cavernas até as mais altas tecnologias de cinema e realidade virtual, o ser humano sente necessidade de colocar para fora suas imagens internas através da arte. E com a arte, nasceu o espectador. Como em frente a um espelho, o espectador reconhece, através da imagem alheia, fragmentos ou até mesmo a representação perfeita de um aspecto seu.
Podemos reconhecer uma lasca da nossa profunda intimidade através do olhar de um diretor que jamais virá a nos conhecer. Podemos ser presenteados por um espelho através de um personagem interpretado por um grande ator, ou ampliar o conhecimento sobre nós mesmos através de um arquétipo representado em uma história bem construída. Sabemos que estamos sendo tocados por um filme quando ele arranca uma emoção inesperada, uma lágrima. Ou nos transporta a uma memória já esquecida, propositalmente talvez. Todo mundo se recorda daquele filme que não saiu da cabeça por horas ou dias depois de assistido. Daquela cena que despertou os mais secretos desejos. Pedaços nossos contados através de imagens e que nos religam a nós mesmos.
Porém, nem sempre levamos nossas escolhas à consciência ou questionamos o por quê de sermos atraídos por determinado tipo de filme. Cabe a reflexão: o que eu escolho assistir é o meu lugar comum, minha zona de conforto? Ou percebo que no desconforto de um gênero de filme que eu evito, posso, em um nível mais profundo, acessar aquilo que eu preciso desenvolver e trazer à luz? Os medos, os padrões enraizados, os sentimentos guardados e emoções, a coragem, a fantasia. O que está oculto debaixo das minhas máscaras e que eu prefiro ver projetado no outro, apenas como telespectador, fingindo que não é comigo, que tudo não passa de ficção?
Para quem se propõe a crescer, todo filme pode trazer aprendizado. No clássico “O Fantasma da Ópera”, por exemplo, a estranha figura que vive no calabouço do teatro é quem ensina a mocinha a cantar. É através da integração dela com a sombra — que também vive no calabouço da nossa psique — que o talento é desperto. Em “O Mágico de Oz”, após um tornado atingir sua cidade, Dorothy está perdida, longe de casa, e começa a jornada em busca do Mágico de Oz, que lhe levará de volta ao lar. Para isso, adentra a estrada (que começa em espiral, símbolo da auto-evolução e do caminho espiritual) de tijolos dourados (símbolo da iluminação), enfrentando a Bruxa Malvada do Oeste com as ferramentas que vão lhe surgindo e sendo desenvolvidas durante o trajeto; o coração, a inteligência e a coragem (o leão, o homem de lata e o espantalho). Através dessa longa jornada, Dorothy se dá conta de que “não há lugar melhor do que o nosso lar”, ou seja, tudo o que precisamos está dentro de nós. São mensagens de busca universais, inerentes ao ser humano.
Se nos permitirmos sermos tocados por um filme além da superfície do balde de pipoca, abrindo as portas da nossa percepção para o subtexto de cada cena, podemos usar o cinema como ferramenta de autoconhecimento. Pois assim como o fotograma da película de um filme, somos feitos de luz e sombra. Lembre-se disso da próxima vez que estiver em dúvida sobre qual filme escolher no Netflix.
O processo criativo do filme “Movido a Respeito”, produzido pela La Casa de la Madre para a Rede Globo, premiado com Grand Prix no Clio e no El Ojo, além de um Leão de Prata e 3 shortlists em Cannes
A ideia de fazer uma pessoa com tetraplegia dirigir um carro de Fórmula 1 parecia impossível, a princípio. O feito — que ganhou repercussão nos principais veículos de mídia — foi realizado graças a duas tecnologias proprietárias da TV Globo: a primeira emprestada dos Jogos Olímpicos, quando os Estúdios da Globo desenvolveram um capacete de eletrodos (EEF) para controlar um game via impulsos cerebrais; a segunda nasceu no PROJAC, onde a equipe de efeitos especiais desenvolvia carros pilotados por controle remoto para rodar cenas de explosões.
O desafio foi lançado em uma reunião entre os dois núcleos e, assim, nasceu o projeto Movido a Respeito. Foram sete meses de trabalho com mais de 100 pessoas envolvidas, entre elas, Rodrigo Mendes, eleito o piloto do F1 adaptado, quase três décadas depois do incidente que o deixou tetraplégico.
Para transformar toda essa tecnologia em um produto que se conectasse com o coração das pessoas, a emissora procurou a produtora de filmes La Casa de la Madre. O desafio: embalar o projeto com storytelling, lançando mão da linguagem cinematográfica. “A melhor maneira de disseminar uma tecnologia nova é através de uma história poderosa”, afirma André Castilho, CEO e roteirista da produtora.
O primeiro passo do diretor do filme, Jorge Brivilati, foi conhecer cada detalhe da trajetória de seu personagem central para criar uma narrativa toda focada em Rodrigo. Ele se debruça em uma vasta pesquisa antes de iniciar qualquer tomada em todos os seus trabalhos e, com o projeto Movido a Respeito, não seria diferente. A inspiração estava na possibilidade de ultrapassar limites, independentemente da condição física — um ideal concomitante à proposta do Instituto Rodrigo Mendes.
Quando criou o instituto que leva seu nome, Rodrigo tinha como objetivo ajudar crianças e adolescentes com deficiência a estudar em escolas comuns: hoje ele é referência mundial na promoção da educação inclusiva nas escolas.
“Se um filme não tiver uma verdade por trás, torna-se vazio, raso. Todo plano deve abarcar uma linguagem.”
O filme nos convida a sentir junto com o personagem, transpondo a camada mais superficial da sensibilidade. É pelos olhos de Rodrigo que observamos a pista de corrida nos primeiros segundos. Mergulhamos na nostalgia com imagens de arquivo e acompanhamos de perto sua reação ao ficar frente a frente com um carro de F1 pela primeira vez. Experimentamos também a mistura de sensações: a felicidade de pilotar um carro depois de tanto tempo, em contraste com o medo de falhar. Afinal, o capacete é o volante: ele capta as ondas cerebrais e traduz em comandos para a direção do carro.
Rodrigo foi submetido a três meses de treinamento, mas o espectador não tem ideia disso: o que aumenta a apreensão. Alimentamos a expectativa pelo sucesso da ação ao observarmos Rodrigo dentro do carro já na pista, sozinho, quando ele atende o sinal e acelera. É impossível não se comover com seu sorriso e a energia da bandeira se movimentando na linha de chegada.
Para Brivilati, todo filme tem uma verdade. Sua missão é encontrá-la e mantê-la. “Se um filme não tiver uma verdade por trás, torna-se vazio, raso. Todo plano deve abarcar uma linguagem”, declara.
Outro desafio do projeto era repassar a vivência de Rodrigo da forma mais pura e real possíveis. Para Bruno Tiezzi, diretor de fotografia, foi essencial fazer o mínimo de intervenção para manter o tom documental proposto por Brivilati. “Era preciso agregar valor estético, mas com o cuidado de se manter fiel à verdadeira história”, esclarece. O material foi captado em duas diárias — uma dedicada à construção do carro, rodada em São Paulo; outra para documentar Rodrigo pilotando o carro, no autódromo Velo Città, em Mogi.
“A melhor maneira de disseminar uma tecnologia nova é através de uma história poderosa.”
O registro desta primeira parte, mais técnica, era tão complexo quanto captar o primeiro encontro do personagem com o veículo. Tanto o carro quanto o capacete são coadjuvantes neste enredo — são os elementos de catarse e transformação do protagonista.
Qualquer falha técnica poderia estragar a experiência. Houve todo um cuidado com a luz para manter o clima de oficina, com tons mais azulados e iluminação destacada pelas máquinas utilizadas pelos engenheiros. O diretor valeu-se de planos detalhes e supercloses para mostrar a dedicação e o perfeccionismo dos técnicos soldando as placas, ajustando as peças. Para Brivilati, incluir na narrativa todas as tecnologias envolvidas foi um dos maiores desafios do trabalho. “Explicar programação, mecânica e interface cérebro-máquina em poucos segundos é muito complexo”, aponta.
Brivilati e Tiezzi estavam preocupados em captar ao máximo a emoção do protagonista, desde o encontro inicial com o veículo até a sua saída na pista. Para tanto, o diretor acoplou uma câmera no carro, acompanhando a reação de Rodrigo em tempo real. Tão importante quanto sua reação é o registro do envolvimento e da curva de emoção de cada membro da equipe.
Durante a volta que coloca à prova meses de trabalho de uma centena de pessoas, o espectador se vê espelhado na equipe, vibrando junto, com o coração na boca, até desembocar no último ato do filme, quando acontece redenção do protagonista, que comemora, triunfante, a conquista de seu objetivo: provar que limites existem para serem ultrapassados.
Com este filme, a La Casa de La Madre segue fiel ao seu DNA de quebrar os estereótipos e fórmulas engessadas dentro da publicidade. “Quantas emoções você pode condensar dentro de um único frame de filme? A busca incansável por essa resposta é o norte do meu trabalho”, conclui Brivilati.
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O processo criativo do curta-metragem “Reencontro”, produzido para a TAM Linhas Aéreas pela La Casa de la Madre
O clima era de concentração no set. Todos ali, mesmo gravando madrugada adentro, queriam dar o melhor de si para que o projeto desse certo. Nosso diretor Jorge Brivilati conduzia os atores, dando brechas para o improviso, enquanto o diretor de fotografia William Sossai controlava as luzes de portas e janelas, para que transparecessem o mais natural possível. O espaço estava orquestrado junto a movimentos de câmeras mais longos, como planos-sequência.
O cenário reproduzido aí em cima bem lembra um set de filmagem de cinema. E era. Mas, com um pequeno detalhe, a finalidade deste curta-metragem era uma propaganda da marca TAM Linhas Aéreas. Uma obra de storytelling assinada pela La Casa de la Madre.
Ao decidirmos dar este passo à frente em filmes publicitários, optamos por uma linguagem cinematográfica em todos os sentidos. Fomos fiéis a esse caminho, desde o roteiro até a finalização.
Direção e montagem
Para realizar a direção do filme, foi preciso tornar-se quase um terapeuta dos atores, instigando-os a viver os personagens, com criações que emergissem de dentro deles, na camada do subconsciente, e, não, inseridas pelo diretor. Essa “terapia” só foi possível com a construção das minibiografias de cada um, desenvolvidas pelo próprio roteirista André Castilho, a pedido do diretor Jorge Brivilati.
É como se, no curta, revelássemos um trecho da história de vida daqueles avós com o neto. Mas quem eram eles? Como era a vida deles antes de estarem reunidos naquela casa, exatamente naquela tentativa de reconciliação?
Essas referências “imaginárias”, porém coerentes com a trama, foram essenciais para a criação de subtextos, que indicavam qual era a intenção emocional de cada cena. Por exemplo, na passagem em que os três estão reunidos em volta da mesa e o avô insiste em dizer ao neto que ele não os visitava há muito tempo. A avó, neste momento, interfere na fala, na tentativa de desviar o assunto, enquanto o neto justifica sua ausência.
O que vemos ali é um cenário de uma figura feminina apaziguando um conflito, que o espectador não sabe exatamente qual é, mas consegue se sentir tão incomodado quanto qualquer um dos personagens — seja a aflição da avó, a timidez do garoto ou a indignação levemente contida do avô.
Ou seja, quando as entrelinhas são desenvolvidas — processo que durou duas semanas, antes do diretor trabalhar diretamente com os atores-, a interpretação ganha em sua veracidade.
Essa verdade também foi potencializada, a partir do momento em que se trabalhou com a experiência de vida dos próprios atores (a propósito, fizemos questão de escolher profissionais de cinema, não de publicidade). Os veteranos Ivan de Almeida e Bri Fiocca, e o jovem Ariclenes Barroso usaram de suas referências internas para desenvolverem seus papéis. Afinal, quem nunca ouviu, ou passou, por desavenças familiares, afastamento de entes queridos e retomadas de afetos?
No set, a forma liberal de direção deu a chance aos atores de, ainda, trabalhar com o improviso — algo quase impensável quando se fala em publicidade, mas totalmente de acordo com a nossa finalidade de um curta-metragem
Assim, ao criarmos uma história a ser contada pela câmera — situação em que nos apropriamos do conceito cinético (tudo o que está em cena se complementa para transmitir uma ideia), não poderíamos deixar de amarrar a última ponta, a montagem. Nesta parte, entra o montador Daniel Weber que pôde criar em cima da premissa de não picotar a trama, mas pensar no clima de cada cena e no desenrolar da narrativa.
Por isso, o que se vê no resultado final são planos mais longos, muitos deles abertos, onde situações cotidianas acontecem. Uma cortina que voa ao fundo, a avó que se levanta e sai do ambiente, a conversa entre o avô e o neto, que vai da felicidade da entrega de um presente, até uma expectativa frustrada.
Tudo acontece em seu devido tempo, com respiro, dando a liberdade ao espectador de olhar, com calma, o que mais lhe interessa na cena e, acima de tudo, dando a oportunidade de vivenciar a história até o fim.
Fotografia, arte e figurino
O que diferencia uma publicidade de um curta-metragem é a sua linguagem. A partir do momento em que se assume esse desafio, toda a equipe deve caminhar junta para essa finalidade. E o resultado deste curta não teria seu êxito, se as cabeças do projeto não estivessem tão entrelaçadas.
A sintonia entre o diretor Jorge Brivilati e o diretor de fotografia William Sossai já vinha de outros trabalhos, uma afinidade importante para este salto em um produto audiovisual.
Foram atrás de uma casa — principal cenário do filme, onde abarcasse todos os elementos primordiais para a fotografia. Ela precisava ter uma boa iluminação, para utilizar a luz diegética (o uso de fontes reais — ou bem próximo a elas — para iluminar o set), e possuir zonas claras e escuras, a fim de acentuar a dramaticidade das cenas, da forma mais natural possível.
Ao mesmo tempo, o espaço teria que ser grande o suficiente para os atores se movimentarem, com a possibilidade de planos-sequência, considerado o potencial máximo da cinemática. Além de ter objetos que dialogassem com a família da história, nem tão rica, nem tão pobre.
Com a escolha da casa, o estudo passou para a estética escolhida, o Teal and Orange. Aplicar este recurso apenas na finalização do filme, traria uma artificialidade que não nos agradaria. Por isso, o diálogo entre a fotografia e a diretora de arte Miwa Shimosakai era essencial, logo no começo. A paleta de cor nos objetos e nos figurinos (como bege, amarelo, castanho e azul) e as texturas que criariam uma profundidade nos frames do filme, todos esses elementos teriam que convergir para Teal and Orange. E assim foi feito minuciosamente em cada cena.
Em paralelo com o trabalho das cores, fomos atrás do que gostaríamos de desenvolver como filme. Muitos diretores atuais, como o premiado cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, inspiram-nos. Mas resolvemos beber na fonte dos clássicos as referências para os detalhes que queríamos desenvolver.
Pasta de pré-produção: storyboard, casting, figurino, arte, etc.
Akira Kurosawa e Andrei Tarkovski para o movimento de cena dos personagens, Max Ophüls e Theo Angelopoulos, a movimentação de câmera, e Robert Bresson com o seu minimalismo, ao trabalhar narrativamente os planos das mãos (importante no momento, por exemplo, em que o avô dá o envelope ao neto).
Hoje, com o filme pronto, tivemos a certeza de que, se um trabalho é, desde sua gênese, pensado e executado para determinado conceito, o material bruto será apenas lapidado em sua finalização, tornando-o ainda melhor.
Roteiro
Seestamos pensando em fazer um filme que fuja dos padrões publicitários e se encaixe numa linguagem de cinema, então, o roteiro é a base para todo o processo seguinte estar de acordo com o intuito inicial.
Para isso, nosso roteiro, criado por André Castilho, tem um conceito primordial: é uma história a ser contada pela câmera.
Ao optarmos pelo formato de um curta-metragem, significa que a trama deve ser complementada com artifícios cinematográficos, ou seja, objeto, atuação, movimento de imagem e áudio, resultando numa multiplicação de ações que só o cinema pode mostrar. O roteiro precisa dar abertura a essas criações.
Um exemplo está na cena de retratação do neto. A cena emotiva estava prevista no roteiro, mas ela se complementa e ganha força com a direção. Brivilati posicionou o neto sentado num degrau, ao lado do avô, que está na cadeira, demonstrando a questão hierárquica avô e neto e, até mesmo, um respeito do mais novo com o mais velho. O neto começa a falar das estrelas, revelando uma memória afetiva, até que surpreende o avô com a notícia de que ele vai na viagem, mas quer que o avô vá junto com ele. Este é o turning point, uma cena de emoção, que se transforma em cômica — e surpreende — quando o avô mata um inseto com a raquete e os dois caem na risada. Toda a cena foi potencializada com o espaço e o tempo da ação, só possível em um filme.
Assim como o momento descrito acima, Castilho criou um roteiro entremeado por diálogos reais, com situações que soam familiares para a maioria das pessoas — até mesmo por ele, que se baseou em situações vividas na relação com seus avós (por sinal, Francisco e Maria são os nomes de seus avós paternos). É uma maneira de capturar o espectador, a partir do momento em que ele se identifica com os personagens e suas ações. Quando se tem essas referências internas, a comunicação com o público é quase imediata.
Essa ligação se dá também com as lacunas deixadas pelo roteiro, que lançou mão do didatismo, em prol de falas sugestivas, a serem preenchidas na imaginação do próprio espectador. Nem todas as informações sobre a vida desses personagens foram reveladas. Quem vê o curta, não sabe o que aconteceu entre o pai e o avô. Apenas compreende que houve um conflito entre ambos e que, por isso, o neto foi afastado. Mas não há nenhuma fala explícita sobre o assunto. A mudança de protagonismo é uma marca desta narrativa. Com o passar do filme, percebe-se que o protagonista não é o neto — impressão inicial -, mas sim o avô. Uma mudança sutil que ocorre da metade em diante. Toda a realidade com que se dá a trama intenciona as cenas, sem empobrecer a narrativa com excesso de explicações nem subestimando o público, mas sim, fisgando-o.
Se há tempo para os momentos de cena acontecerem e se tudo for justificado naturalmente — seja na escolha dos atores, no diálogo, na interpretação, na luz ou na montagem, então, estamos falando de cinema e avançamos na busca por uma publicidade mais sincera e menos ludibriante. Isso é storytelling.
CAPAZ DE TORNAR OS PROFISSIONAIS MAIS MOTIVADOS E ENGAJADOS, ESPECIALISTA DÁ DICAS PARA EMPRESAS QUE QUEREM TRANSFORMAR A FORMA DE SE RELACIONAR COM O PÚBLICO INTERNO
Mais poderoso em relação ao uso de dados persuasivos, estudos comprovam que contar histórias é a melhor forma de criar conexões com o ouvinte. No mercado corporativo, a prática do storytelling ajuda a transformar e modelar a cultura organizacional, aproximando os colaboradores do propósito da empresa, gerando maior motivação e engajamento, o que reflete na satisfação e nos resultados alcançados, e pode ser usada em treinamentos, apresentações de vendas e ações de RH, por exemplo.
O especialista em storytelling, o roteirista e CEO da produtora paulistana La Casa de la Madre, André Castilho, dá cinco dicas para empresas que desejam adotar as técnicas internamente.
1. SINCERIDADE
Ser sincero e verdadeiro é o conceito básico do storytelling. Utilize momentos e experiências reais para se conectar mais profundamente com o público interno. Dar detalhes ajuda a despertar emoções e fazer com que o espectador se sinta parte da experiência narrada, criando confiança e vontade de trabalhar para aquela empresa.
2. DIVERSIDADE
Não se restrinja apenas a contar as histórias dos donos e fundadores da empresa. Histórias acontecem o tempo todo no dia a dia corporativo e cada funcionário tem a sua, cada cliente se relaciona com um serviço ou produto em um contexto específico gerando uma experiência única. Contar histórias de membros da equipe motiva os demais colaboradores, que passam a se sentir reconhecidos e motivados.
3. CONEXÃO
Marcas são conceitos de valor. Por isso, crie conexões entre os valores da empresa e aqueles que são importantes para os profissionais que trabalham nela. Isso permite que os colaboradores se sintam engajados em um propósito maior, fazendo com que eles queiram fazer parte da cultura da empresa de forma mais proativa.
4. INTERATIVIDADE
Escolha onde contar essas histórias para os colaboradores. Plataformas de endomarketing são boas, porém a interação direta com a equipe por meio de redes sociais, por exemplo, é uma forma de mostrar que as histórias da empresa fazem parte da vida de cada um deles e vice-versa. É importante marcar os personagens retratados em cada post, além de criar conteúdos informais e interativos. Uma ideia interessante é convidar os colaboradores a darem dicas de histórias a serem contadas, o que torna o material mais humano. Além disso, é preciso atentar-se ao conteúdo, já que cada plataforma apresenta características e ferramentas específicas.
5. SENSO DE OPORTUNIDADE
Ao trabalhar com storytelling internamente, as empresas podem descobrir histórias que virão a se tornar oportunidades externas. Uma boa história ou experiência, por exemplo, pode se tornar parte de uma campanha de marketing da marca, humanizando-a diante de seus clientes, gerando maior empatia e identificação. Contar com a ajuda de especialistas em storytelling para fazer parte desses processos é fundamental para garantir resultados mais assertivos.
AS IMAGENS QUE ILUSTRAM ESTE POST SÃO DO NOSSO PROJETO “QUAL A SUA HISTÓRIA?”, QUE PODE SER CONFERIDO NO NOSSO INSTAGRAM: @LACASADELAMADRE OU HTTPS://WWW.INSTAGRAM.COM/P/BAZTFGLLK9H/?TAKEN-BY=LACASADELAMADRE.
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